Ficar na fila olhando "pro nada".
Esperar a comida do restaurante chegar enquanto repara no lugar, nas pessoas e conversa.
Assistir aos comerciais da TV.
Deitar na cama ou no sofá, olhar para o teto e curtir um momento "fazendo nada".
Acabar de comer antes de todo mundo e ter de ficar na mesa assistindo a comilança alheia tranquilamente.
Quantas vezes nós já passamos por essas situações? Inúmeras, né? Desde a infância.
Agora eu gostaria de mudar a pergunta: releia os tópicos acima e diga quantas vezes os seus filhos já estiveram nas mesmas situações.
Creio que, salvo raras exceções, a grande maioria de vocês vai pensar: "ah, mas as crianças de hoje são diferentes! Elas têm muita energia! Elas são mais espertas do que nós fomos! Elas não aceitam mais esperar!" E por aí vai.....
Será mesmo? Será que, por alguma mágica do destino, as crianças foram perdendo a noção de paciência? Será mesmo que essa transformação toda existe só porque elas são "mais agitadas" do que nós fomos?
Eu realmente não acredito nisso. Que elas são mais avançadas, mais espertas e mais "ligeiras" do que nós, eu acredito, até porque, vivo isso em casa com o lindão. No entanto, acredito também, que saber esperar, saber "curtir o tédio", aprender a ter paciência, é questão de ensinamento. Vem de berço.
Hoje, ainda na gravidez, já somos condicionados a pensar que criança precisa de distração 24h por dia. Que criança entediada faz birra. Que as crianças de "hoje" não sabem ficar quietas, etc...etc...
As crianças de hoje só são assim porque estão sendo criadas assim. Não podem mais ficar numa fila sem que se distraiam com o celular. Não podem mais esperar no restaurante sem que usem o tablet pra "matar tempo". Não interagem mais porque estão sempre "ocupadas", olhando para alguma tela. Seu filho está sentado no sofá com a cara emburrada porque não tem nada pra fazer? Deixe ele ali! Tédio não mata ninguém não!
Creio que nossos filhos PRECISAM do tédio. Eles precisam aprender que esperar faz parte da vida. Que raríssimas coisas acontecem na hora que a gente quer que aconteçam. Que o "fazer nada" também é bacana, relaxa e pode gerar ideias fantásticas.
Com isso em mente, eu e o maridão estamos usando algumas táticas práticas com o lindão pra ir incorporando esse tipo de comportamento na vida dele:
- No restaurante, ele espera pela comida junto com a gente (sem celular) e é responsável por ficar de olho no painel esperando a nossa senha (quando estamos num shopping, por exemplo).
- Em casa, enquanto eu faço o almoço, ele fica comigo na cozinha, brincando. Se pede a minha atenção ou quer que eu vá lá no quintal brincar com ele, explico que agora estou fazendo o almoço e que ele precisa esperar (às vezes, isso gera crises imensas, com direito a muitos gritos e protestos, mas eu não dou o braço a torcer e só vou brincar com ele quando terminar o preparo da comida).
- Na TV, não deixamos ele mudar de canal durante os comerciais....tem que aprender a esperar.....e fazemos o mesmo no YouTube. Só pulamos anúncios que sejam impróprios para a idade dele. No mais, tem que assistir até que o próximo vídeo comece.
- Quando enfrentamos uma fila, não nos apoiamos em nenhum artifício pra passar o tempo. Enfrentamos a fila e pronto. Conversamos, brincamos com os itens do carrinho, etc.
- Se ele acaba de comer antes de nós, não pode descer da mesa até que todos tenham comido.
A partir do momento em que tomamos essa decisão, nós mesmos aprendemos muito, pois percebemos que estávamos iguais a ele...sempre com o celular em punho, sem paciência nenhuma pra esperar, sempre com pressa.
Creio que não só as crianças, mas todos nós, precisamos dessa calmaria. Precisamos contemplar o "nada". Precisamos valorizar as esperas. Precisamos tirar o pé do acelerador. Pelo bem do nossos futuro...pelo bem da nossa saúde física e mental.
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